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Anésia foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço

05/7

 

Anésia Cauaçu, de Domingos Ailton, é um romance histórico que tem como protagonista  uma mulher que esteve à frente do seu tempo.  Anésia foi a primeira mulher no sertão baiano de Jequié a ingressar no cangaço (antecedendo mulheres como Maria  Bonita, Dadá e Lídia), a liderar um bando de cangaceiros, a   montar de frente já que as mulheres de sua época  montavam de lado em uma sela   denominada silhão e a vestir calças compridas (as mulheres do período em ela viveu  apenas usavam vestidos e saias)  nos momentos de combate para facilitar  o enfrentamento  de jagunços dos coronéis  e  das tropas policiais.  Segundo o jornalista e escritor Zuenir Ventura “ o romance histórico nutri, na maioria das vezes, de informações dos jornais”. É o que ocorre com o romance Anésia Cauaçu  que em diversos capítulos tem como base fontes históricas  os jornais  A TARDE e Diário de Notícias do período da República Velha, principalmente dos anos de 1916, 1917, 1920  e 1930. Baseado em fatos reais, o romance Anésia Cauaçu se reporta a formação de Ituaçu, antigo Brejo Grande e as brigas de duas famílias da localidade: Os Silvas chamados de "rabudos" e os Gondins, denominados de "mocós".   O major Zezinho dos Laços ( um dos líderes dos “rabudos”)  exige que Augusto Cauaçu acompanhe seu grupo  de jagunços em uma emboscada contra família Gondim. Por conta da recusa de Augusto este é assassinado a mando de Zezinho dos Laços. Então a família Cauaçu se reúne e resolve vingar a morte, assassinando Zezinho dos Laços seis anos depois em uma tocaia na Fazenda Rochedo com uma bala feita do chifre de um boi preto, que fora confeccionada pelo pai de santo Heitor Gurunga, um sacerdote da religiosidade afro que cuidava do povo pobre da região. O irmão de Zezinho, Cassiano do Areão, o cunhado,  coronel Marcionilio de Souza e o filho deste Tranquilino de Souza  passam a perseguir e matar membros da família Cauaçu  e do bando de cangaceiros que acompanha o grupo, comandado por  Anésia e seu irmão José Cauaçu. Anésia Cauaçu lidera e enfrenta vários combates com coragem e uma força extraordinária, uma vez que em muitos momentos ela  "invulta" (desmaterializa), transformando-se em uma rocha ou toco de árvore. O governador  da Bahia na  época, Antônio Muniz,  que denomina o movimento armado dos Cauaçus de "conflagração sertaneja”, envia para Jequié e região mais de 240 soldados fora os oficiais, para combater os Cauaçus, que passam a utilizar táticas de guerrilha para enfrentar à polícia. Em um dos combates, José Cauaçu é ferido e morre 8 dias depois. Anésia é presa, mas depois é libertada quando concede uma entrevista de primeira página  da edição de 25 de outubro de 1916 do Jornal A Tarde sobre a história do bando.   A força policial pratica uma série de arbitrariedades contra a população jequieense e da região. O alferes Francisco Gomes faz um homem comer lama no povoado do Baixão, crucifica outro nas margens do Rio das Contas e  lança crianças para o ar,  que são amparadas com a ponta das baionetas além de ordenar a matança de muitos outros inocentes cujo genocídio é denunciado na imprensa baiana por  veículos como "Diario de Notícias" e Jornal "A Tarde".  O romance se reporta também a episódios envolvendo  persongens da República Velha e da Revolução de 1930 e seus reflexos em Jequié e na região.  A trama ficcional faz referências ainda as manifestações  religiosas e da cultura popular do Sertão como as festas de terreiros de  Candomblé,  os festejos de São João, do Reisado,  aos livretos de cordel  e os adjuntórios, às figuras típicas como tropeiro e o mascate e ao famoso Cabaré do Maracujá que havia em Jequié e era encontro dos intelectuais e de gente simples do povo. Conta também o romance entre Anésia Cauaçu e o mascate Afonso, um dançador de forró e  mulherengo que se apaixona pela catingueira, de acordo com a ficção.

 

Tradição  Oral

 

O romance Anésia Cauaçu  se baseou em narrativas orais de pessoas que ouviram histórias relacionados aos Cauaçus ou  que mesmo  chegaram a conhecer personagens do romance como D. Alvina Ferreira, que morreu com 112 anos e conviveu com Anésia Cauaçu e  seu Braulino Antônio de Souza, que morreu aos 96 anos e conheceu o  pai de santo Heitor Gurunga. A obra procura também preservar a pronúncia e a morfossintaxe popular. Neste sentido o romance é rico em palavras e expressões da variante lingüística do catingueiro das primeiras décadas do século XX.

 

O romance  pode ser considerado também uma meta-narrativa-histórica  em que o autor procura na ficção revelar fatos históricos e acontecimentos presente na memória coletiva através da tradição oral. Para o escritor Domingos Ailton, autor do romance,  “Anésia Cauaçu tem uma dimensão tão grande que  não  cabe apenas nos estudos sociológicos. A ficção tem este poder de representar o imaginário”.   Os  feitos dos Cauaçus estão presente na memória coletiva de algumas pessoas idosas ainda hoje em Jequié, mas se não houver ainda trabalhos como este romance os fatos poderão se perder com o tempo sem que  as novas gerações conheçam esses acontecimentos marcantes da região de Jequié.  A ideia do autor da obra é que o romance seja estudado nas disciplinas do curso de Letras e no ensino médio e fundamental.

 

Base científica

 

O romance Anésia Cauaçu  se baseou também  em fontes científicas  como os livros História de Jequié ( Imprensa Oficial do Estado, 1971), Capítulos da  História de Jequié ( EGB, 1997) e Nova História de Jequié (Gráfica Santa Helena, 2006) de autoria do  historiador Émerson Pinto de Araújo  e nas  dissertações de mestrado Anésia Cauaçu: Mulher- Mãe-Guerreira, um estudo sobre mulher, memória e representação no banditismo na região de Jequié – Bahia.  (Unirio, 2001), de Márcia do Couto Auad  e De tropeiro a coronel: ascensão e declínio de Marcionillo Antônio de Souza (1915-1930) -  (Ufba, 2009), de João Reis Novaes.

O romance Anésia Cauaçu  é uma contribuição para recuperar parte importante da história do cangaço  e dos coronéis em parte representativa do  sertão baiano na República Velha,  e  da memória coletiva da região de  Jequié.

O autor do romance, o escritor e jornalista  Domingos Ailton, membro fundador da Academia de Letras de Jequié, está em busca de apoio para publicação do romance histórico Anésia Cauaçu. Uma solicitação de apoio para publicação da  obra através do Fundo Municipal de Cultura foi encaminhada para o secretário Municipal de Cultura e Turismo, Robério Chaves. Jornalista Domingos Ailton.

 

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